domingo, 17 de outubro de 2021

“ Contando a família “ 86

Acordei ainda sentindo muito sono. Olhei as horas no celular e percebi que ainda é muito cedo. O famoso relógio biológico. E então, minha mente foi captando tudo que rolou até eu dormir. Luan descobriu que tô grávida. Eu quis terminar. Ele tá insistindo com uma cara de pau sem tamanho. Ficou aqui ontem. Aqui!

Comemos pizza e depois sorvete. Prometi visitar minha nutricionista hoje. Apaguei no sofá.

Sentei na cama, querendo entender tudo que aconteceu. Olhei minhas roupas e vi que estou com a mesma de ontem. Levantei e me senti tonta. Oh, não, feijãozinho. Voltei a sentar, esperando a sensação ruim passar. Fechei os olhos e respirei fundo. Somente quando me senti melhor novamente, foi que levantei devagar para evitar que tudo se revire se novo. Ouvi vozes na cozinha. Minhas irmãs. Logo dei de cara com as duas tomando café, já arrumados para o trabalho.

- Bom dia, gravidinha. - Talita sorriu.

- Como você tá, irmã? - Clarissa me olhou com atenção.

- Bom dia, meninas. Eu me sinto bem. - Sorri. - Luan tá aqui? - Franzi a testa, já sentando em uma das cadeiras e as duas assentiram.

- No quarto de hóspedes. - Clarissa disse.

- Ele quem levou você até o quarto ontem. Você apagou, ninguém conseguia acordar. - Talita acrescentou. Respirei fundo. Eu estou mesmo lidando com isso. No fundo, eu estava torcendo para que fosse um sonho.

- Eu decidi que não quero mais. - Falei para as duas, que me olharam espantadas.

- Tem certeza? - Clarissa franziu a testa.

- Isso pode ser culpa dos hormônios. - Talita palpitou.

- Não. Vocês sabem o quanto ele vacilou. - Eu disse, pegando um pedaço de melancia que já estava toda cortada. - Ontem quase eu perdi meu filho. Fiquei mal feito uma filha da mãe. Não mereço isso, não preciso disso. - Eu falei, me sentindo muito decidida. - Ficar passando mal porque tô me sentindo insuficiente, insegura e ignorada. 

- Ele não parece querer desistir de você. - Talita ergueu as sobrancelhas.

- Boa sorte pra ele. Eu já decidi. - Dei de ombros.

- O amor morreu? - Clarissa me olhou desconfiada.

- Não. Eu amo ele demais. Mas eu me amo mais. É mais que tudo, amo esse serzinho dentro de mim. - Acariciei minha barriga. - No começo eu sei que eu não soube lidar, mas agora eu já não imagino outra realidade. - Elas sorriram derretidas. - Ontem foi um choque pra mim. Passar pelo susto, receber a notícia de que meu bebê quase não resistiu… Me senti a pessoa mais péssima do mundo.

- Eu imagino que sim. - Talita me compreendeu. 

- Luan precisa resolver as pendências profissionais dele, realizar os planos dele… quando ele pensar em ter uma família, se eu ainda estiver disponível, quem sabe… - Continuei desabafando.

- Ele ficou bem emocionada com a notícia de ser pai. - Minha irmã falou, então me contou com detalhes como aconteceu tudo. Dizer que não senti nada seria mentira, mas as reações do meu coração precisam ficar guardadas. Não posso dar espaço agora. Lhes falei sobre a surpresa que ele fez com as flores ontem e as duas ficaram derretidas. Sei que torcem por nós dois, mas sei que me apoiam independente de qualquer coisa.

Conversamos por minutos e elas levantaram quando se deram conta do atraso para o trabalho. E eu, fiquei. Porém, não me deixei abater pelo fato de que estou sendo tratada como uma inútil. É um motivo de força maior. Decidi voltar para meu quarto, fui para o banho e fiz todas as minhas higienes matinais.

Já estava batendo uma fotos, me posicionando na parede, enquanto encaixei meu celular numa ring light, quando Luan bateu na porta.

- Lavínia. - Ele chamou, com a voz rouca ainda. Respirei fundo, sabendo que vou lidar com essa situação por mais um dia.

- Oi. - Respondi.

- Eu queria pegar uma roupa aí. - Sim, ele tem pouquíssimas peças por aqui. Caminhei até a porta, abrindo em seguida e me deparei com ele recém saído do banho, com os cabelos molhados e bagunçados, a toalha enrolada na cintura. Meus hormônios gritaram com a barriguinha sarada e as tatuagens se realçando em sua pele. Tudo nele me excita. Ô, céus! Desviei o olhar e dei espaço para que ele entrasse. - Bom dia. Como você tá? - Me olhou com atenção e de repente, me senti minúscula na frente dele. Precisava ser tão alta e ter toda essa presença?

- Tô bem. - Ele sorriu, parecendo aliviado.

- Cê tá linda. - Me olhou feito bobo.

- Vou na nutricionista. - Comuniquei, não respondendo nada sobre seu elogio.

- Beleza, vou com você. - Ele disse e eu franziu a testa, ao ver minha reação ele simplesmente virou e foi para o closet. Ah, mas não vai mesmo! Peguei meu celular e para celebrar o quanto estou bem, publiquei uma das fotos que tirei:

 “ Já começando o dia maquiada por aqui! E vocês? Já fizeram algo por vocês hoje? 🙆🏾‍♀️ “ 

Sentada na cama, eu vi algumas coisas das redes sociais e entre elas, notícias sobre a viagem de Natália, minha cunhada e companhia… o maior comentário é sobre Luan não ter ido. Já começaram a especular várias coisas e entre elas, a maior especulação: que eu não quis ir, teria ficado incomodada com a modelo e por isso ele evitou desconforto.

É verdade? Sim, é verdade. Em parte. Ele só ficou porque parei no hospital, porém, ele vai desmentir isso logo que possível. Não quero o mundo sabendo da minha insegurança.

Luan voltou, já vestindo uma calça de moletom, juntamente com uma camisa de mangas longas que ele ajeitou em frente do espelho, deixando na altura dos cotovelos.

- Você já viu os sites de fofoca? - Perguntei, enquanto observo ele andando livremente por meu quarto, sabendo onde fica cada coisa.

- Não, uai. O que foi? - Me olhou atento. - Não me diz que vazou você no hospital.

- Não, não. - Esclareci. - É sobre você não ter ido a viagem. Estão dizendo que foi por minha causa, ciúmes e blá, blá, blá. Você vai desmentir isso logo que possível. - Ele soltou uma risadinha, enquanto eu permaneço séria.

- Mas é verdade, uai. - Eu sei que ele tá só me provocando.

- Luan, não me faz discutir a essa hora da manhã. - Suspirei e ele riu, se concentrando em ajeitar seu cabelo. Ficamos em silêncio. Até ele falar novamente:

- Você espera eu secar meu cabelo? - Pediu.

- Eu vou sozinha. Não pedi pra você ir comigo. - Fui direta.

- Mas eu vou. É sobre nosso filho. - Ele me olhou.

- Não, não é. É sobre o meu corpo!

- No seu corpo tá quem? Nosso bebê. - Deu de ombros e virou-se novamente.

- Luan, você foi e está sendo a maior causa de estresse pra mim. Você realmente quer me ver mal? Fica Longe! - Me exaltei, levantando. Ele largou tudo que estava fazendo e em passos rápidos se aproximou de mim, colocando as mãos nas laterais do meu rosto. Ficando muito perto.

- Essa é a última coisa que eu quero. Não consigo e nem posso ficar longe, Lavínia. Você não entende? Meu maior sonho tá se realizando, não posso deixar de vivenciar isso em cada detalhe. - Ele disse olhando nos meus olhos.

- Deixa só essa folguinha acabar… quero ver como você vai vivenciar cada detalhe.

- Se você fizer questão de me incluir, vou vivenciar sim. Eu quero conversar com você numa boa, nós precisamos conversar sobre um mundo de coisas que envolve essa gravidez. - Suspirei, sabendo que ele realmente tem razão. Temos um mundo que precisa ser conversado. 

- Te espero lá na sala. - Falei, me afastando rapidamente e saindo do quarto. Sentei no sofá e fiquei imaginando como serão os próximos dias e os próximos acontecimentos. Vamos envolver nossa família, que obviamente vai ficar sabendo da gravidez e também da minha decisão. Quero deixar tudo muito claro.

Luan não demorou tanto a aparecer.

- Amor, tô morrendo de fome! - Ele disse espontaneamente a palavra “ amor “. Lhe mostrei um olhar mortal e ele logo pareceu entender, ficando um pouco sem graça. - Tem algo pra comer?

- Tem, ué. Procura lá. - Falei, voltando a atenção ao meu celular. Mandei mensagem para minha mãe, avisando que preciso falar sobre um assunto importante. Luan sumiu por minutos e quando voltou, parecia devidamente satisfeito. Eu não recebi resposta da minha mãe. Ele sentou ao meu lado no sofá e eu larguei o celular, dedicando minha atenção a ele, que logo começou a falar:

- Eu quero me desculpar de novo por ontem. - Ele disse, me olhando. - Fui um imbecil com você e peço perdão. - Suspirou. - Você não imagina o quanto eu me sinto mal, Lavínia. Eu entendo você querer ficar longe de mim, mas eu não vou sair de perto de você e muito menos do nosso bebê. Quero que você saiba que pode contar comigo pra tudo. Que não se sinta sozinha, sobrecarregada, triste… que não sinta nada de ruim. Eu tô com você nesse ciclo. A única diferença é que você quem tá levando nosso filho, mas eu tô vivendo isso junto com você a partir de agora, tá bom? - Eu assenti. Deixando ele falar. Suspirou e então continuou: - Eu quero estar nas consultas, vou comprar um apê pra gente aqui na capital. Pra que não fique longe do seu trabalho, que possa ficar perto das meninas quando eu estiver nos shows. O melhor pra você. - Bufei, percebendo que ele está ignorando que eu quero terminar. - Eu sei, eu sei que você quer terminar. - Ele disse ao perceber minha reação. - Mas eu falei que não vou sair do seu lado, mesmo que eu entre no apartamento sozinho, lá vai ter tudo pra nossa família. Por que eu vou te conquistar de novo, loira. Escreve o que tô te falando. - Ele disse muito decidido e eu revirei os olhos. - Essa semana vou entrar numa reunião com a equipe responsável por marcações de show e tudo mais. Quero tudo reduzido a partir de agora. Passando esse clipe, só vou cumprir minha agenda até o ano novo e depois, quero que cancelem o que for necessário, mas eu vou ficar mais tempo aqui. Com vocês e pra vocês. Eu quero comemorar seu aniversário com você, aonde você quiser. - É, meu aniversário é em dezembro e nós estávamos pensando em viajar. Porém, meus planos são outros. Apesar de ainda faltar cerca de quatro meses. - E mais uma coisa. - Ele me mostrou o dedo indicador. - Quero muito que a gente possa almoçar com minha família hoje e contar pra eles. - Me pediu feito criança com os olhos brilhando. Assenti mais uma vez. - E você? Quer me falar alguma coisa? - Perguntou compreensivo. 

- Sim. - Limpei a garganta e comecei: - Eu estou certa da minha decisão quanto a você. Nos amamos, mas nem sempre é possível levar o amor adiante. Vamos ter um filho e você vai saber tudo sobre ele. Sobre ele. Quanto ao apartamento, isso é por sua conta. Vou continuar aqui e você não vai me obrigar a nada. - Falei rapidamente e então parei para respirar. - Sobre os shows, isso é com você também. Eu só quero ficar em paz e com você eu não tô conseguindo, infelizmente. Temos muitos fatores externos que atrapalham. A gente já sabia e mesmo assim, fomos teimosos ao tentar. Outro ponto: não vou fingir estar bem com você na frente da sua família. Juntamente com a notícia do bebê, quero que a gente comunique nossa atual situação. - Ele me mostrou descontento, porém, continuei: - Depois do almoço, quero reservar um tempo para que a gente fale com meus pais. - Ele assentiu. - Não contei pra ninguém, queria que você soubesse primeiro. - Revirei os olhos, lembrando do quanto fui idiota. - As meninas souberam porque descobriram junto comigo, enfim. - Dei de ombros ao perceber que estou me justificando. Foda-se o que ele pensa. - Não quero que você publique nada agora. Estou no período de risco e quero me recuperar primeiro. É isso.

- Tudo bem. A gente pode fazer foto com aqueles testes quando for anunciar? - Ele pediu, sorrindo. Ele tá ignorando toda minha indiferença e isso me deixa realmente brava.

- Essa parte pública você decide como quer. - Dei de ombros.

- Eu quero assim, se você concordar.

- Tudo bem. Algo mais? - Ergui as sobrancelhas.

- Não, acho que não.

- Então vou a nutricionista.

- Vou com você e de lá, vamos pra minha casa. Pode ser? - Suspirei.

- Pode ser. - Vou ter que encarar isso mesmo. Fazer o que? Ele só vai ter dia livre até amanhã e então, esse grude todo e todas as promessas se acabam. Não queria me sentir tão desenganada, mas Luan sempre acaba quebrando alguma promessa que faz pra mim. Só estou saturada.

Levantamos, fomos no nosso carro. Fui dirigindo, ele foi mexendo no celular, cantando algumas músicas que tocavam, as vezes ficava em silêncio me olhando. Eu apenas ignorei. Quando estacionei meu celular tocou. Atendi, ainda conectado ao carro e então ele acabou ouvindo minha mãe:

- O que tá acontecendo com você? - Ela disparou e eu sorri.

- Sobre o que exatamente? - Perguntei, enquanto Luan sorriu, me olhando.

- Você tá afastada da empresa? As meninas acabaram de me falar. Disseram que não é nada de ruim, mas que você vai precisar ficar em repouso, isso não faz sentido nenhum, Lavínia! - Ela disse, claramente angustiada. 

- Mãe, eu tô bem. Tenho um compromisso agora com minha nutri e logo depois vou ver a família do Luan, mas reserva um tempo pra mim daqui algumas horas? Você e meu pai. - Pedi.

- Reservar tempo? Filha, você e suas irmãs são minha prioridade. Todo tempo do mundo! Falo com ele sim. Chamada de vídeo? 

- Pode ser. - Falei, amarrando meus cabelos em um coque, Luan me observa distraidamente.

- Tá. Fica bem, se cuida. Amo muito você.

- Eu que amo você. Beijo. - E então, a ligação foi encerrada.

- Ela tá preocupada, tadinha. - Luan comentou, enquanto já começamos a sair do carro.

- Ela sabe que eu não me afastaria atoa, mas logo vamos esclarecer. - Eu disse, então seguimos para o primeiro compromisso. Luan me esperou na recepção, que por sorte não teve quase ninguém durante o tempo da minha consulta. A doutora me passou toda uma dieta pensando em mim e no bebê, na minha nova rotina e tudo mais. Foi totalmente atenciosa e eu me senti cuidada. Quando terminamos, me senti melhor comigo mesma. Como é bom dar atenção a si mesma!

Voltamos ao carro e dessa vez, ele pediu pra levar. Resultado: dormi o trajeto todo. Ando tão, tão, dorminhoca. Só acordei quando ouvi uma voz distante chamando meu nome. Acordei e vi ele me olhando todo bobo, dei um meio sorriso com a visão linda, enquanto ainda estou adormecida.

- Chegamos, preguicinha. - Ele apertou meu nariz, fazendo com que eu despertasse totalmente. Me ajeitei no assento, enquanto ele me observa. O que tanto olha hoje? Suspirei. - Você tá dormindo muito? - Perguntou.

- Me sinto menos disposta na maior parte do tempo. - Fui sincera.

- Nosso bebê é dorminhoco.

- Igual a você. - Eu disse antes de sair, pude ouvir a risada dele. Vi sua mansão, parece que não venho aqui há um século! Logo ele colocou sua digital, destravando a porta de entrada. Na sala de estar, vimos seu pai assistindo futebol. Levantou animado, logo que nos viu.

- Aô, rapaz! Que bom ver vocês! - Ele sorriu, abrindo os braços para mim, primeiramente. O abracei de volta. - Como você tá? Soube da ida ao hospital.

- Tô bem, já passou. - Eu sorri, me sentindo acarinhada. Como eu amo essa família e a forma como eles me tornaram família também.

- Certeza? - Ele desfez o abraço, mas olhou em meu rosto. Amarildo tem um jeito mais sério, na maior parte do tempo. Mas sempre que pode solta uma piada e quando está em toda de viola, vira um grande contador de histórias engraçadas.

- Certeza! - Sorri.

- Então, bora comer! - Ele passou o braço em volta do meu ombro, de forma acolhedora. Ao mesmo tempo, apertou a mão de Luan, perguntando como ele estava. Enquanto estávamos caminhando para a cozinha, ele falou sobre a ligação da minha sogra contando sobre o almoço de última hora. Acabou largando tudo no escritório, vindo até em casa.

Foi quando chegamos até a cozinha, vi minha sogra juntamente com uma ajudante, funcionária da casa, preparando tudo.

- Oi! - Falei animada e ela me olhou rápido.

- Ah, meu Deus! Chegaram! - Ela sorriu, enxugando as mãos num paninho, antes de vir até nós. Fui a primeira a ser recebida também. - Como você tá, meu amor? - Suas mãos pousaram em cada lado do meu rosto.

- Tô bem. E você? Senti saudade. - Então, ela me puxou para um abraço forte.

- Você nunca vem me ver.

- Tenho muito trabalho, me desculpa, sogra. - Sorri.

- Eu entendo completamente. Fiquei assustada ontem com a ida ao hospital. - Ela disse, desfazendo o abraço.

- É sobre isso que queremos falar. - Luan disse, e então, ela foi até ele, lhe beijando no rosto e o abraçando em seguida.

- Bora pro escritório? - Amarildo sugeriu.

- Pode ser. - Luan disse. E fomos para o escritório que eles tem em casa. Entramos e sentamos nas poltronas. Luan sentou no encosto da mesmo poltrona que eu, ficando ao meu lado.

- E então? É algo ruim? - Marizete franziu a testa preocupada.

- Eu começo ou você? - Luan me olhou com atenção. Eu realmente gosto quando ele me olha assim. Respirei fundo.

- Tô nervosa. - Eu ri, realmente me sentindo ansiosa.

- Tudo bem, então eu falo. - Ele disse.

- Ah, meu Deus! - Marizete já colocou as mãos na boca, com os olhos brilhando. Ela já imagina o que seja…

- Lavínia e eu estamos esperando nosso primeiro filho, ou filha. - Luan sorriu, sendo bem direto e Marizete soltou um som como quem não acredita. Amarildo sorriu, levantando e abraçando seu filho.

- Parabéns, filhão! Agora você vai saber o que é ser um pai e tudo que isso representa.

- Obrigado, pai. - Luan disse. Marizete veio em minha direção com os olhos marejados e logo eu fiquei na mesma situação. Hormônios!

- Ah, minha filha! - Ela sorriu, me abraçando em seguida. - Parabéns! Você vai ser uma grande mãe. Você tá realizando um sonho meu! Que Deus te dê todo discernimento.

- Obrigada, Marizete! - Eu sorri. Logo em seguida ela desfez o abraço e olhou minha barriga, tocando-a. Aquilo me emocionou.

- Vou ser vovó! - Ela sorriu.

- Quanto tempo? - Amarildo perguntou, já vindo em minha direção, enquanto invertemos os abraços.

- Dois meses. - Respondi, enquanto ouço Marizete pulando e abraçando Luan.

- Parabéns, Lavínia. Esse bebê já é muito abençoado e muito amado. Que vocês sejam uma família muito feliz. - Ele desejou. Não sabe ainda de um grande detalhe. Porém, cada assunto por vez.

- Obrigada, Amarildo! - Falei, enquanto desfizemos o abraço. Então, começaram as perguntas deles:

- Vocês só descobriram agora? - Marizete perguntou.

- Eu descobri antes. Fazia um tempo que eu tentava contar pro Luan, mas nunca dava. - Amarildo franziu a testa tentando entender.

- Muito trabalho. - Luan complementou.

- Não imaginava que um neto ia vir assim tão cedo! - Amarildo riu e nós também.

- Ninguém imaginou. Eu entrei em pânico, mas agora já assimilei. - Comentei, então sentamos novamente.

- E agora? O que pretendem fazer? - Marizete perguntou. Olhei Luan, esperando ele falar o outro detalhe sobre tudo isso.

- Eu quero comprar um apartamento lá na capital mesmo, próximo de onde fica o das meninas. Quero que Lavínia tenha acesso fácil ao trabalho e a elas também, quando eu estiver viajando. - Olhei sua tremenda cara de pau. - Pai, quero diminuir a carga de shows, trabalhos. Ao invés de passar cerca de 20 dias na estrada, quero passar no máximo 15. Pelo menos metade de cada mês quero tá tranquilo, com ela e o bebê. - Seu pai assentiu em concordância.

- É… além disso tudo, Luan não falou um detalhezinho. Nós escolhemos ficar como amigos por enquanto. - e então, recebi o olhar estranho dos dois. - Eu ando muito estressada e sobrecarregada. Soube da gravidez um mês atrás, tive que lidar com isso e com trabalho, muito trabalho. Eu venho passando mal na maioria dos dias. Luan tá na vida corrida de shows e clipes… enfim. Eu me senti um pouco sozinha e ainda mais estressada… - E então, Luan me interrompeu.

- Mas isso vai mudar a partir de agora. - O olhei, e então voltei a falar.

- Não pedi pra ele fazer nada disso porque não quero atrapalhar a carreira dele de modo algum. Conversei com ele e sinto que isso é o melhor agora. Ontem eu passei mal, depois de uma discussão nossa… - Suspirei. É ruim se expor assim. - E foi só por isso que ele cancelou a viagem e só assim soube da gravidez. - Vi o pai dele o repreender com o olhar. - A doutora disse que minha gravidez é de risco, devo me resguardar de qualquer sentimento estressante ou angustiante pelo menos até o próximo mês, quando eu fizer três meses. - Suspirei de novo. - E eu disse ao Luan que não deixaria a família de fora da nossa atual situação. Então, já estou deixando vocês cientes de tudo. - Sorri de lado. Os pais dele o olharam.

- Ela quer isso. - Ele disse. - Eu não quero, não. - Suspirou.

- Olha, vocês dois levam uma vida realmente complicada… mas a gente vê o amor daqui. - Marizete disse. - Eu espero que essa criança tenha uma família incrível, que vocês estejam juntos e consigam passar por isso. Amor é paciência. Vocês acham que é fácil levar um casamento? Temos muitos momentos em que da vontade de jogar tudo pro ar, mas quando percebemos que o amor é maior, reconhecemos, pedimos desculpas e seguimos. - Eu assenti, apesar de estar firme da minha decisão.

- Você se cuide, Lavínia. Você e o bebê. - Amarildo disso. - Nós tínhamos um sonho antigo de ser avós, não quero que nada aconteça com vocês. Se isso inclui se afastar do Luan, então, que seja necessário. - Eu assenti novamente.

- Obrigada. A gente vai manter uma relação amigável, vamos ter um filho afinal. - Falei.

- Quero falar com você. - Amarildo disse, olhando para Luan.

- Vem, meu amor. Tem delícia de abacaxi na geladeira. - Marizete me chamou. Algo me diz que a conversa entre pai e filho vai ser séria. Fomos até a cozinha em silêncio, quando chegamos lá, Marizete me serviu. Quando experimentei, foi como ter um pedacinho do céu.

- Foi você que fez? - Meu olhos brilharam.

- Foi sim. - Ela sorriu.

- Isso tá maravilhoso. - Eu disse, voltando a comer. É realmente incrível e eu poderia ter isso todos os dias em casa. Na verdade não, tenho uma dieta pra seguir que eu já acabei de quebrar. O interfone tocou e então, a funcionário se afastou para atender.

- Você realmente tá bem, minha linda? - Marizete perguntou, ficando ao meu lado no balcão.

- Já estive pior. - Ri de leve. - Foi um susto quando soube da gravidez. Agora me sinto mais leve.

- Tudo que eu menos quero é ver vocês dois separados, mas que você e o bebê estejam bem acima de tudo. Sei o quanto o meu filho é louco por você. Enfrentou traumas do passado, nunca desistiu e ele fica realmente afetado quando tá mal com você. Eu sei que ele não vai desistir. - Ela disse.

- Luan é insistente e eu sei muito bem disso. Ele insistiu comigo até eu acabar ficando bom ele, depois acabei aceitando namorar… e aí tudo aconteceu muito rápido. As vezes eu não consigo lidar com toda essa distância, sabe? - Olhei ela. - Sempre tive as pessoas próximas de mim. De repente, mudo de país, vivo uma rotina louca de trabalho, começo a namorar um cantor que quase não para em casa e pra completar engravido dele. - Suspirei, desabafando.

- Quando a gente ama não tem jeito. - Marizete acariciou meu ombro. - Posso te dizer uma coisa? - Me olhou e eu assenti. - Você tem muito mais poder do que imagina. Ainda mais agora… não fica insegura, não. Nunca vi meu filho tão apaixonado por alguém, em outros tempos ele ia enlouquecer por saber que vai ser pai e mesmo sendo cedo entre vocês, ele tá tão feliz! Então, Lavínia, você é muito poderosa. Eu sei que a carência bate, a saudade bate. Vocês são um casa jovem e pouco se veem, mas vão ter que ceder aqui e ali. Não vai ser tão fácil, mas se tiverem dedicação vão passar por cima de tudo. - Ela disse e eu já comecei a ficar com os olhos marejados. - Vem cá. - Ela me abraçou forte. - Quando precisar conversar com uma mãe, eu estou aqui. Sei que a sua tá um pouco distante fisicamente e sei o quanto isso mexe com uma mulher grávida. Além de sua sogra, sou uma segunda mãe da vida pra você. Tá? - Ela disse, enquanto as lágrimas já rolam em meu rosto.

- Obrigada. Mesmo. - Foi o que eu consegui dizer. Como faz diferença ter apoio. Gravidez causa medo, as vezes pânico, agora com uma rede de apoio maior eu me sinto como se o peso das minhas costas fossem divididos entre nós. Sei que ela me quer com o filho, ainda mais agora que vamos ter um bebê, mas eu continuo bem certo do que quero. Chega de ficar naquela situação. Eu realmente não aguento lidar com isso agora.




OIEEEEE! Capítulo tranquilinho pra vocês. E aí? Como vai ser daqui pra frente? Já quero vocês cheia de ideias e palpites hahaha 
Comentários respondidos!!!
Bjs, Jéssica ❤️

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

“ Descobrindo a paternidade em meio ao caos “ 85

Cheguei ao hospital pela porta dos fundos, para evitar qualquer tipo de afobação. Logo uma enfermeira me levou até a salinha onde Clarissa está. Consegui passar sem ser percebido, afinal, estou todo agasalhado. Minha tática para passar o mais discreto possível pelo aeroporto e agora, para cá. 

- Eles estão aqui. Você pode aguardar, a médica já vem falar com vocês. - Ela me olhou tranquila e então abriu a porta, logo que entrei vi Clarissa e uma médica de meia idade. As palavras que saíram da boca da médica, me chocaram:

- Ela e o bebê estão bem. Já disse que pode ficar tranquila. - Disse sorridente.

- O bebê? - Franzi minha testa, sentindo meu coração ir a mil em um segundo. Só então, elas se deram conta de mim. A médica assentiu, ainda sorrindo.

- Doutora, eu posso ter um minutinho com ele. - Clarissa pediu, então, prontamente a médica nos deixou a sós. Eu não consigo me mexer. Estou completamente paralisado.

- Bebê? - Repeti, sentindo meus olhos esbugalhados. Minhas pernas estão enfraquecendo e eu sinto que posso desmaiar a qualquer momento.

- Calma, senta aqui. - Ela disse, apontando para a poltrona. Ainda em choque, eu me movo lentamente. Quando cheguei até a poltrona, me joguei nela. Aliviado por não cair duro no chão. Minha cunhada ficou agachada de frente pra mim. - Não deveria ser eu aqui pra te falar, muito menos ouvir da médica daquela jeito. Lavínia planejou muitas vezes te contar de uma forma fofa, mas ela não conseguiu. Você nunca teve tempo desde que ela descobriu. - Eu pisquei, sem acreditar que tudo que estou ouvindo é real. - Respira. Você tá pálido. - Ela se preocupou.

- Eu vou ser pai. - Eu afirmei mais pra mim do que pra ela, que assentiu com a cabeça. Levantou e pegou água que tem disponível no cantinho. Logo voltou e me entregou uma garrafinha.

- Calma. Não posso lidar com a mãe e o pai desmaiando. - Ela riu de leve. Bebi a água, seguindo a orientação dela.

- Como… - Neguei com a cabeça. - Desde quando? - Perguntei, sentindo meus neurônios fervendo. - Quando? Ela sempre se protegeu.

- Tem um mês que já descobriu, Luan. No último dia da viagem em Sidney. - Ela disse e meu mundo girou. Ela passando mal várias vezes veio à tona em minha mente. Os enjoos, a indisposição… - Hoje ela tá completando dois meses. - Clarissa foi contando devagar.

- Dois meses? - Senti meus olhos marejando. Meu peito retorcei. Meu sonho se realizando, ao mesmo tempo que meu trabalho me fez ser totalmente negligente com meu filho. Com ela. As lágrimas saltaram e eu coloquei as mãos em meu rosto, largando a garrafinha de água entre minhas pernas.

- Calma. - Clarissa acariciou meu ombro. - Ela ficou muito mal ontem depois da discussão de vocês. Hoje era a primeira consulta oficial do bebê e ela tava animada em finalmente te falar sobre a gravidez. Vocês viriam juntos para a consulta, ela já tinha planejado tudo. - Senti meu ar faltando, enquanto soluços saem do meu peito. Liberei o choro. Chorei como há anos não chorava. Então, tudo foi fazendo sentindo na minha cabeça… o comportamento dela, as reações… tudo! Eu fui um completo idiota.

- Como ela tá? - Perguntei com dificuldade.

- Tá bem. Ela vomitou várias vezes e isso fez com que ela ficasse muito fraca. Ela me ligou, acabou desmaiando. - Enfim… agora tá tomando soro. - Ela disse, ainda acariciando meu braço. - Bebe mais água. - Ela pegou a garrafinha, me entregando. - Hoje tá sendo um dia difícil, você precisa ficar calmo. Vocês vão conversar… ela tá magoada. Você acabou de saber que vai ser pai. Talita tá pirando cuidando de tudo na empresa, eu aqui… tá tudo um caos. Então, nós precisamos de calma pra lidar da melhor forma possível. - Clarissa disse, sendo muito pacífica. Isso de certa forma foi útil pra mim. Funguei, limpando minhas lágrimas, tentando me recompor. Ela tem razão. Preciso ter calma. Eu tenho um mundo de vacilos para consertar. Um sorriso cruzou meu rosto quando lembrei em absoluto do fato de que vamos ter um neném. Ela vai ser a mãe do meu filho. Caralho. Deus! Caralho. É um misto de emoções. 

- Vamos ter um filho. - Eu falei, ainda sorrindo e Clarissa sorriu também.

- É… vão sim. E eu vou ser tia. Parabéns, papai! - Ela comemorou, me abraçando em seguida. - Vocês vão se resolver. Eu torço pra isso. - Afagou minhas costas.

- Ela não vai pra longe de mim nem a pau. - afirmei. Porra. Vou ser pai! Quando isso se passa por minha cabeça… é um êxtase sem igual! Sempre foi meu sonho. Sempre. Eu soube desde o primeiro dia que aquela mulher era diferente. Minha intuição estava certa. Vai ser a mãe do meu primogênito.

- Tá, se recomponha. Ela não sabe que você tá aqui, muito menos que eu quem liguei. Então, me arrisquei muito. Temos uma mamãe com as emoções a flor da pele. - Clarissa disse, desfazendo o abraço. Eu ri de leve.

- Deve tá impossível! - Clarissa concordou rindo.

- Muito raivosa e muito chorona. - Eu sorri, mas meu peito doeu por saber que eu deixei dois meses passarem sem ver isso de perto. - Só pra você saber… semana passada, estávamos com problema no sistema. Eu fico a frente disso, então ela entrou na sala feito um furacão e foi muito grossa. Em menos de dez minutos, ela voltou até minha sala chorando e se desculpando. - Eu ri, imaginando. Como eu amo aquela coisinha pequena e explosiva! - Daí, eu ri… ela ficou brava de novo, mas no fim eu domei a fera. - Piscou um olho.

- Amo demais aquela mulher. - Eu sorri, admirado até mesmo com as emoções desordenadas dela.

- Eu também amo. E ainda mais agora. - Clarissa suspirou, então levantou. - Bom, meus joelhos já não são mais os mesmos. - Fez careta e nós rimos. - Vou falar com a médica pra você ir ver ela. - Assenti e então ela saiu. Fiquei perdido em meus pensamentos. Mas a felicidade de saber que vou ser pai foi o que dominou. Vontade de gritar pro mundo. Rapidamente, Clarissa voltou e eu me senti nervoso imediatamente. - Cê pode ir. Te acompanho até lá. - Ela disse da porta e eu segui ela até pararmos em frente ao quarto de Lavínia. - Boa sorte. - Me deu um sorriso acolhedor. E então, bati na porta antes de abrir. Quando abri, meu coração foi a mil. Ver ela, sabendo que tá levando nosso bebê ampliou o meu amor. Seu rostinho limpo, ainda tomando soro. O rosto não demonstra nenhuma emoção. Mas ela me olha.

- Oi, amor. - Falei, fechando a porta atrás de mim.

- Quem te falou que eu tava aqui? - Disse friamente.

- Clarissa me ligou. Mas não fica brava com ela. - Eu disse, me aproximando. Ela negou com a cabeça, parecendo insatisfeita. Sentei na pontinha da cama, ficando perto dela. - Quase fiquei louco quando soube de você aqui. 

- Só assim pra você desistir da viagem. Você já sabe não é?! - Continuou sem expressão nenhuma. Eu nunca vi ela tão fria.

- Já sei. - Mordi meus lábios. - Ainda tô custando a acreditar. - Falei, olhando sua barriga coberta pela roupa de hospital.

- É… eu também custei. Não imaginava que essa notícia fosse dada assim, mas é isso. - Vi um relance de decepção em seus olhos. 

- Me desculpa. Fui um completo imbecil esse tempo inteiro. Eu tinha muito trabalho… não imaginava, nem de longe. 
Você sempre tomou tudo certinho… eu realmente não tinha como saber.

- É, você foi um imbecil. Um grande imbecil. - Ela ergueu as sobrancelhas.

- De agora em diante, eu tô com você. Vou compensar esses dois meses. Prometo pra você.

- Não promete o que não pode cumprir. - Respondeu de imediato. - Nós sabemos que eu tô bem sozinha nessa.

- Não tá. - Respondi de imediato também. - Eu tô aqui pra vocês. Vamos formar nossa família, amor. Você sabe que eu sempre sonhei em ser pai… você vai ser a mãe… é muito surreal.

- Não é bem assim, Luan. Eu não quero assim. - Ela disse e eu franzi a testa, sentindo minha pulsação acelerar.

- Tira essa ideia da cabeça. - Pedi.

- Você sabe por que eu vim parar aqui? Olha só o que essa relação tá fazendo com a minha gravidez. Meu filho é a maior prioridade a partir de agora.

- Nosso filho. - enfatizei. - Não vou deixar você ir. - Eu disse, ficando desesperado.

- Você não vai me impedir. Quero ficar longe de você e de toda essa loucura que envolve sua vida. Resolva seus trabalhos…

- Você tá mesmo me dizendo isso? Você sabe que meus maiores traumas foram causados… - E ela me interrompeu.

- Eu estou priorizando minha gravidez. Só isso. Respeita o meu tempo. Eu tentei, juro que tentei. - Ela continuou falando sem expressão e eu nunca fiquei tão assustado.

- Você vai desistir na primeira dificuldade? Nós sabemos que não ia ser fácil.

- É… mas eu não sabia que ia ter esse clipe quente, você atuando como se fosse solteiro, nem sabia que isso iria me incomodar tanto. Não sabia que no meio disso tudo eu ia ficar grávida, namorando apenas um mês com você. Eu não sabia de muita coisa.

- Você é propósito de Deus na minha vida, Lavínia. Essa gravidez é a maior prova disso tudo. Eu errei. E garanto que vou errar mais vezes, não sou perfeito, nunca amei tanto… Mas de uma coisa eu sei: você é meu sonho. Eu não desisto dos meus sonhos. - Falei com muita certeza, olhando pra ela. Ela revirou os olhos, suspirando alto.

- Olha, acho que você precisa rever muita coisa. Não precisamos ficar juntos por causa do bebê. Você sempre vai ser o pai, independente de qualquer coisa.

- O que você tá querendo? Me deixar louco? Eu entro numa casa com você agora, se você quiser. O bebê só antecipou tudo que eu já queria com você. E eu te amo, Lavínia. Te amo tanto que não consigo nem explicar o quanto. - Ela abaixou o olhar. Olhei sua barriga e então toquei. - Você acha mesmo que eu vou ficar longe dessa coisinha? Longe de você? Esqueceu que é o amor da minha vida? - Falei, acariciando sua barriga.

- Suas palavras já não significam muita coisa, Luan. Atitudes fazem a diferença. - Ela me olhou, com os olhos lagrimejando.

- Certo. Como você quiser. - Foi o que eu disse, ainda acariciando sua barriga. Ela quer atitudes? Ela vai ter atitudes. Ficamos em silêncio por alguns segundos. Ela ficou me olhando, enquanto eu acaricio sua barriga. Eu vou ser pai. Em meio ao caos da nossa relação, me permiti sorrir por essa dádiva. - Quando aconteceu? - Eu quis saber. Ela bufou.

- Você é perturbador. - Resmungou. Eu sei que me quer longe, mas eu apenas não consigo. Não agora.

- Me fala, uai. Tenho direito de saber. - Ela me olhou brava. As expressões voltando!

- Quando eu viajei pra ver você, depois do clipe que você fez pra mim. - Eu sorri, lembrando daquela noite.

- Então foi ali… - Olhei ela, intensamente. Não foi proposital. Eu apenas não consigo me segurar. Ela desviou o olhar do meu, sem me dar muita abertura. - Mesmo com o anticoncepcional… - E ela me interrompeu:

- Eu esqueci naquela noite. Tinha acabado de mudar o método, então não estava acostumada. Foi só aquela vez. A chance era mínima… mas enfim, aconteceu. - Eu sorri.

- Tô muito feliz que essa chance mínima aconteceu. - Fui sincero e ela suspirou mais uma vez. A médica apareceu, então, fomos interrompidos.

- Opa, desculpem. - Ela sorriu, segurando uns exames nas mãos.

- Tudo bem, doutora. - Eu sorri.

- Preciso conversar com vocês. - Ela se aproximou, tomando seriedade. E eu não gostei do que vi.

- O bebê tá bem? - Lavínia disparou, parecendo preocupada.

- Está bem. - Lavínia e eu respiramos aliviados. - Mas… preciso conversar muito sério com os dois. Você teve picos altos de estresse nos últimos meses.

- É, eu sei… meu trabalho estava uma loucura, nós dois também vivemos dias agitados. - Lavínia disse.

- É… a vida é muito conturbada, mas eu preciso ser bem direta com vocês. Lavínia, você não pode mais se estressar tanto, se entristecer… Sua gravidez está em uma situação delicada. Você chegou aqui com um início de sangramento. - Ela disse e eu senti o baque em meu coração. As lágrimas brotaram nos olhos da Lavínia. - Devemos segurar esse bebezinho aí dentro por pelo menos mais um mês. Até o terceiro mês tudo é mais arriscado. E você já estourou a cota de risco, se é que me entende. - Ela disse de maneira compassiva. - Recomendo repouso pra você. Se desligar dos problemas, evitar muitas emoções. Procure somente estar em paz e tranquila. O neném precisa disso. Tudo que você sente, ele sente também. Absolutamente.

- Eu sei. - Lavínia disse já chorando. E eu me aproximei mais dela, acariciando seus cabelos.

-  Nós vamos fazer dar certo. - Eu disse, na maior certeza de que minha família está sendo formada e que está precisando de mim.

- Posso contar com vocês? - A doutora disse por fim. Lavínia assentiu, se derramando em lágrimas.

- Pode, pode sim. - Falei.

- Ok. Volto em cinco minutos para retirar o soro e vocês poderão ir para casa.

- Certo. - Eu disse e então ela saiu. Lavínia começou a chorar mais, e eu lhe abracei. - Calma… vai ficar tudo bem. - Eu disse, beijando o alto da sua cabeça, enquanto ela soluça em meu peito.

- Não posso falhar com ele. - Ela disse em meio ao choro.

- Você não vai. Você é forte. Tô aqui, meu amor. - Lhe tranquilizei, mesmo sentindo meu peito apertando. Vou lutar pelos dois. Vou lutar pela minha família. É… minha família. Surreal! Saber que eu tenho uma parcela de culpa nisso tudo, me faz ficar fraco, mas eu vou recompensar tudo. Ela vai me perdoar. Ela permaneceu chorando, eu abraçando ela, nós dois em silêncio. Esse é o momento em que, na cabeça dela, passa muita coisa e na minha também. Então, sozinho eu fui lembrando de todas as vezes que ela insistiu pra me ver, querendo um tempo comigo e eu nunca consegui. Agora tudo faz sentido. Ela deve ter se sentido muito, muito sozinha. Bateram na porta e em seguida, Clarissa entrou. 

- Oi, gente. - Ela disse cuidadosa. - Conversei com a doutora agorinha. - Ela suspirou.

- Clarissa… - Lavínia disse, com a voz muito embargada, então eu desfiz meu abraço. Uma ideia passou por minha cabeça. Preciso resolver isso. Levantei da cama e dei espaço para sua irmã. Enquanto elas conversam, peguei meu celular e falei com Edgar para que tu seja preparado. Lavínia, se prepare para ser mimada. Nunca mais vou fazer com que você fique assim.

Levamos alguns minutos para acalmar Lavínia. Clarissa argumentou que suas emoções podem afetar o bebê. Isso foi o suficiente pra que ela parasse de chorar. O nariz ficou vermelhinho, mas ela se conteve. A doutora voltou, lhe dei permissão para voltar pra casa. Eu fui junto com elas. Clarissa foi dirigindo e nós dois fomos atrás.

- Clarissa, cê pode ir trabalhar tranquila. Eu fico com ela. - Eu disse.

- Gente, eu não tô doente. Posso ficar sozinha. - Me deu uma patada, mas não me importei. Ando merecendo mesmo.

- Se você não precisa de mim, nosso bebê precisa. - Argumentei.

- Tudo bem. Deixo vocês em casa, mas nada de discussão. Caso contrário eu não sei o que sou capaz de fazer… - Ela nos avisou, olhando pelo retrovisor interno.

- Não, nós vamos ficar bem. Pelo bebê. - Falei e Lavínia olhou pela janela, me evitando. É… não vai ser nada fácil.

Seguimos em silêncio. Todos ainda tentando entender todos os acontecimentos do dia. Foi um dia e tanto! E ainda estamos no meio da tarde.

Chegamos ao aeroporto e Clarissa não subiu. Tem muito trabalho pra fazer, afinal, Lavínia vai ficar alheia a tudo. Pelo menos por hoje. E no que depender de mim, durante todo o tempo necessário. Entramos no elevador e ela não me olha. Meu celular tocou, minha mãe.

- Oi, filho. - Ela disse. - Como tá a Lavínia? - Perguntou. Com certeza Bruna passou o recado do que havia acontecido.

- Oi, xum. Ela tá bem. Foi um mal estar. Quero conversar com vocês logo que possível. - Eu disse, evitando dar a notícia por telefone.

- Claro. Mas tá tudo bem?

- Tá sim. Vou ficar aqui hoje. - Eu disse e vi os olhos esbugalhados de Lavínia em mim. Sim, você não vai ficar livre de mim tão fácil. Bufou em seguida.

- Tá ok, filho. Qualquer coisa me liga. Diz pra ela que mandei um abraço e desejo melhoras.

- Tá, eu falo sim. - Eu disse, e então nos despedimos. - Minha mãe mandou um abraço e desejou melhoras. - Lhe repassei o recado.

- Você não vai ficar aqui, Luan. - Ela disse, bem brava.

- Vou sim. - E ela me olhou incrédula.

- Você tá ficando completamente sem noção de tudo. - Disse irritada, cruzando os braços. - Eu não quero mais, velho. Já falei que não quero.

- Já falei que não vou desistir.

- Você não respeita minha decisão? - Ela esbravejou.

- O bebê, Lavínia. - Lhe lembrei e ela respirou fundo, me dando as costas. Foi então, que o elevador abriu. E eu me senti ansioso. Espero que ela goste da surpresa. Caminhamos até a sua porta e ela logo abriu. Até eu me surpreendi com o que vi. Eu pedi pra não poupar capricho e isso foi levado a sério. Buquês de flores espalhados em lindos jarros por toda a sala. Flores coloridas e alegres. Ela paralisou e eu confesso que eu também admirei tudo aquilo. - Pedi pra prepararem isso pra vocês. De agora em diante, você vai ser tão alegre quando as cores dessas flores. E vai ter tanta paz quando essa visão a nossa frente trás. - Ela permaneceu em silêncio, olhando tudo.

- Essa foi tua primeira tentativa? - Finalmente falou, sem mostrar nenhuma emoção. Eu me senti frustrado. - Dá um jeito de limpar essa sala. - Ela disse sem me olhar, caminhando em direção ao seu quarto e simplesmente ignorando minha surpresa. Frustrado é muito pouco. Engoli seco. Liguei para o porteiro e pedi sua ajuda para que pudéssemos limpar tudo. Não tive outra escolha. Ela não se importou com o que fiz. Pelo jeito, eu estou realmente numa situação difícil.

A limpeza levou minutos, longos minutos. Ela não voltou para a sala. Então, sentei no sofá e liguei a TV. Esperei. Ela vai ter que sair do quarto em algum momento. E isso não demorou para acontecer. Ela passou para a cozinha me ignorando completamente. Olhei seu andar. Eu babei em seu corpo. Os quadris largos, a cintura estreita, o shortinho curto mostrando a polpa da bunda… Senti meu coração acelerar. Os cabelos soltou e molhados, uma blusinha curta. Gostosa. Muito. Gostosa. Uma gostosa que não quer me ver nem pintado de ouro. Uma gostosa que tá carregando nosso filho. Meu primeiro filho. Suspirei alto e fiquei observando ela descaradamente. Está preparando um sanduíche.

- Você almoçou? - Eu quis saber. Ela me olhou e então, me ignorou. - Vai ficar sem me responder? Temos uma criança por aqui. - Provoquei.

- Já. Vê se para de me encher. - Reclamou, voltando sua atenção ao sanduíche.

- Aonde você comeu?

- Hospital. - E então, ela saiu do meu campo de visão e eu ouvi o barulho da geladeira sendo aberta. Levantei e fui para a cozinha. Encostei na bancada e fiquei observando ela se movimentar de um lado pro outro, totalmente imune a mim, enquanto eu me sinto completamente afetado por ela. O reboladinho, o rosto concentrado, sério… Eu amo tudo. Sou apaixonado em tudo. Louco, louco por ela. Sua barriguinha tá normal, mas fiquei imaginando quando crescer. Vai ficar linda demais! Terminou seu lanche e então, saiu da cozinha. Segui ela feito uma sombra. Sentou-se no sofá e mudou o canal, colocando em uma série que eu não conheço. Sentei ao lado dela, olhando seu rosto.

- Para de me olhar. - Disse, com os olhos vidrados na TV.

- Não dá. - Sorri.

- Luan. - Ela me olhou. - Eu não quero mais isso. De verdade. - Voltou a falar.

- Eu não vou deixar você grávida.

- Eu que estou escolhendo ir.

- Não, Lavínia. Não. - Me recusei a aceitar. - Vou procurar um lugar pra nós. Vamos morar juntos, passar por esse momento difícil.

- Não. Eu não vou. - Ela riu sem humor. - Eu vou ficar aqui com minhas irmãs. Elas têm que ajudado muito.

- Eu sou o pai do bebê. - Tentei argumentar.

- E daí? - Ela ergueu as sobrancelhas. 

- Vou estar o tempo inteiro com você. Se acostume com isso. - Disse com convicção.

- E você vai ter minha indiferença o tempo inteiro. Acostume com isso. - E então, voltou a me ignorar. Tentei interagir, mas não consegui nada. As horas foram se passando e ela comeu além do que normalmente come, sem largar da série. Até eu acabei me envolvendo na história. E então, que suas irmãs chegaram.

Talita entrou afobada, preocupada com Lavínia.

- Como você tá, irmã? - Ela sentou-se ao lado de Lavínia.

- Bem, amiga. - Ela sorriu. Saudade de ter esse sorriso pra mim.

- Oi, Luan. - Clarissa sorriu, parecendo exausta.
Nunca mais me dá um susto desses. - Talita continuou.

- Comeu direitinho, irmã? - Clarissa se preocupou.

- Comi, comi sim. - Ela continuou sorrindo. Senti meu peito doendo. Nunca doeu tanto. - Como foi o trabalho?

- Assunto proibido pra você. - Talita disse. - E aí, Luan. - Finalmente falou comigo. Eu apenas sorri. - Parabéns, tá? - Ela sorriu.

- Obrigado. - Lavínia continua sem me olhar.

- Tá feliz? - Ela continuou e Lavínia bufou.

- Muito. - Eu sorri.

- Cê precisava ver como ele chorou quando soube. - Clarissa riu de mim.

- Ah, gente! - Talita se derreteu e Lavínia finalmente me olhou, me avaliando. Olhei ela de volta e houve uma tensão entre nós. O clima estava lá por um momento. Existe amor. Isso é quase palpável. Então, ela quebrou o contato.

- O que vamos jantar? - Lavínia mudou de assunto.

- Você comeu tem pouco tempo. - Eu comentei e ela me ignorou.

- Tá comendo pelos cotovelos. - Talita entregou ela.

- Talita! - Ela repreendeu. Clarissa riu. Finalmente tivemos um momento mais leve. - Preciso alimentar meu pequeno feijão. - Ela acariciou sua barriga e eu me encantei. Vejo a maternidade nela. Vai ser uma grande mãe!

- Pequeno feijão? - Eu perguntei.

- O nome do meu afilhado por enquanto. - Talita disse.

- Afilhado não. Sobrinho. Vai ser meu afilhado. Na verdade, afilhada. Teremos uma menina. - Clarissa disse com muita convicção.

- Essa briga de novo não. Não posso me estressar. - Lavínia chantageou as meninas, que riram.

- Bruna vai querer entrar nessa briga. - Eu disse e as duas logo começaram a falar algo, cada uma defendendo o motivo de ser a escolhida pra ser madrinha. Lavínia gargalhou pela primeira vez no dia, isso aliviou um pouco meu coração. Me fazendo liberar uma risada alta.

- Chega! Não vai ser ninguém, pronto! - Lavínia disse, ainda sorrindo. - E agora me digam, o que vamos jantar?

- O que cê tá querendo comer? - Perguntei cuidadoso e ela me olhou.

- Não tô falando com você, Luan. - E o clima tenso voltou.

- E… cês tão nesse nível? - Talita fez careta.

- Ela tá nesse nível. - Neguei com a cabeça.

- Você me fez ficar nesse nível. E você sabe que quero um tempo meu. - Suspirei, olhando ela.

- Ok! Vamos pedir pizza! - Clarissa berrou, enquanto nós dois ficamos olhando. Vamos ver quem é mais teimoso. Ter uma família sempre esteve entre os meus maiores sonhos. Lavínia é a mulher que eu sempre quis. Ela não vai tão fácil. Nem que pra isso eu precise mover montanhas. Nosso amor vai superar.








OOOOOOIIIII! Resultado de comentários e ansiedade de vocês é ter capítulo rápido HAHAHAHA minha gente, Luan descobriu. Lavínia quer terminar. Luan tá agindo com uma cara de pau tremenda… Bebê tá correndo risco…  E aí? O que acham que vai acontecer nos próximos capítulo??? 
Comentários muito bem respondidosssss
Obrigadaaaa
Bjs, Jéssica ❤️

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

“ Viagem “ 84

No trajeto fui pensativo, enquanto Bruna pública uma foto com Lavínia.

- Olha só, pi. - Ela me mostrou e eu pude ler a legenda, afinal, paramos no sinal: 

“ Prestigiando mais uma conquista dessa linda! ❤️ Amo você! “ 
- Ela tava linda. - Sorri bobo.

- Olha só essa foto das três. - me mostrou rapidamente. Vi que foi Clarissa quem fez o post:

 “ Grande noite. Grandes parceiras. Grandes amigas. Grandes irmãs. ❤️ “ 

- Elas são dedicadas. - Falei.

- Muito! - E então o sinal abriu.

- Cê achou a Lavínia estranha hoje? - Decidi perguntar. Preciso saber de uma opinião que esteja alheia a tudo.

- Não, uai… - Me olhou franzindo a testa, enquanto eu permaneço com a atenção no trânsito. - Ela me pareceu cansadinha.

- É, ela me disse que tava exausta.

- Aquilo deve ter dado muita dor de cabeça durante o tempo de reforma, ainda mais agora no final.

- Também acho. - Eu disse e continuamos conversando até chegarmos ao endereço repassado por Arleyde.

Cheguei sem muita animação, mas agora preciso me mostrar o mais satisfeito possível. Entramos no elevador, enquanto Bruna fala sobre o quanto acha Natália linda. Eu só consigo pensar em Lavínia, no quanto ela parecia decepcionada.

Liguei para Arleyde, informando minha chegada e logo a porta foi aberta. Por ela. Natália. É realmente uma mulher de tirar o fôlego, mas eu tô amando como nunca. Ela parece não ter muito efeito sobre mim. Sorri e ela me abraçou animada, se comunicando em inglês:

- Finalmente! - Ela disse.

- Prazer conhecer você, linda.

- O prazer é meu. - E então ela se afastou, ainda sorrindo. - Sua namorada? - Olhou minha irmã.

- Não. Minha irmã. - Sorri. - Bruna, Natália. Natália, Bruna. - Fiz as apresentações e então as duas se cumprimentaram. Fomos convidados para entrar em seguida. O quarto tem uma área gourmet na varanda, que dá pra receber amigos. Logo vi a galera lá, sentados em volta de uma mesa, conversando animadamente.

- Eu queria muito conhecer sua namorada. Ela tá sendo referência no mundo dos cosméticos. - Natália disse. É, as mulheres realmente conhecem a marca Sra. Make. Lavínia acaba sendo o rosto da marca, minha sogra não aparece tão frequentemente…

- Ela teve trabalho hoje. Uma nova fase da marca aqui no Brasil, estávamos lá. Ela não conseguiu vir. - Menti.

- Que pena! - Ela disse, enquanto permanecemos com nosso contato em inglês. Logo caminhamos até as pessoas. Cumprimentei Arleyde, Wellington, Edgar, o diretor do clipe, seu assistente e a amiga de Natália. Estão bebendo whisky. Sentei e me servi também.

E então, entramos em horas de conversa sobre trabalho. Detalhes do clipe, sugestões… discutimos muitas pautas. E eu fiquei mais relaxado após beber um pouco, antes estava muito tenso pensando na loira. Agora, horas depois, eu já me sinto mais leve. Foi quando entrou no assunto que me fez ficar tenso novamente:

- Precisamos ir para Trancoso. Você me prometeu. - Ela disse, me olhando.

- Não sei como vai tá minha agenda. - Fiz careta, tentando dar uma desculpa.

- Fala pra mim. - Ela disse, olhando Edgar. Que riu. Tô ferrado.

- Nós precisamos conhecer Trancoso. - A amiga dela disse.

- Lá é incrível. - Minha irmã disse, não ajudando em nada.

- E você poderia chamar uns amigos solteiros. - Natália me olhou sugestiva.

- Chama sua namorada também! - A amiga disse.

- É, vocês vão ter tempo livre até o clipe. - O diretor disse.

- Luan vai tá com dois dias livres daqui até o clipe. - Edgar entregou.

- Conversa com a Lavínia, acho que ela ia adorar. - Arleyde disse. Eu estou encurralado.

- Velho… - Eu ri, sem saber o que fazer e as duas continuaram insistindo. Eu me vi sem saída, joguei os braços para cima, me rendendo. - Ok, ok! Nós vamos! - E elas comemoraram. O diretor que é muito divertido, logo disse que adoraria ir com sua esposa também. Então, todos foram convidados. Até Bruna disse que iria, levaria meu cunhado. Foram mais alguns longos minutos conversando sobre a viagem. E para meu total desespero, quando o jantar terminou, eles já haviam até mesmo comprado passagens. Daqui uns dias, na minha única folga até o clipe, estaremos viajando. Lavínia nem sonha sobre isso. E eu me sinto um covarde sem a mínima coragem de lhe falar sobre o assunto. 

Bruna indicou muitos lugares para que elas conheçam em São Paulo, nos próximos dias. Eu estou uma pilha e sinto que vou explodir de tanto pressão.

Quando finalmente, pudemos ir embora, eu tive a sensação de finalmente respirar.

Minha irmã levou o carro e fomos durante todo o trajeto falando sobre o quão incrível vai ser todos em Trancoso daqui uns dias.

- Não fala nada com Lavínia. Vou conversar com ela primeiro. - Pedi.

- Ué, porque? - Ela estranhou.

- Ela tá um pouco enciumada com a Natália. - Bruna riu.

- Eu também estaria. - Até minha própria irmã. Droga.

- Vou tentar guardar isso e convencer ela de última hora. - Eu me decidi, respirando fundo.

(…)
Dias depois

A viagem já é amanhã. Eu estou saindo do hotel dentro de uns minutos, voltando para o aeroporto. Lavínia esteve cada vez mais distante, porém se justificou dizendo que está se adaptando ao novo ambiente e novo funcionamento em seu trabalho. E agora eu estou ligando pra ela, para finalmente contar sobre a viagem.

- Oi, amor. - Ela disse, sonolenta.

- Já tava dormindo? - Franzi a testa. Ainda são 19:00hrs. Lavínia ultimamente anda dormindo muito. Ela não era tão dorminhoca assim.

- Não, assistindo série. - Ela disse e eu custei a acreditar.

- Vamos viajar amanhã. - Falei empolgado, tentando fazer minha ideia de irmos em paz, dar certo.

- O quê? - Ela disse, sem entender.

- Trancoso. Toda a equipe do clipe vai. Bruna vai com Raphael também. - E então, houve aquele silêncio que eu já conheço bem. Ele antecede a bomba que vai explodir. 

- Você disse que estaria de folga amanhã. - Ela disse sem emoção. 
 
- E vamos. Você vai comigo. - Eu continuei falando empolgado, sentado em minha cama.

- Essa tal viagem ainda estava de pé? - Ela riu sem humor. - 
Eu pensei que você viesse pra cá. 

- Natália queria muito conhecer lá. 

- E você me escondeu tudo de novo… - Ela suspirou.

- Não! Eu quis fazer surpresa.

- Luan, não fode. Sou uma idiota pra você? - Ela disse, em um tom muito sério.

- Óbvio que não… achei que seria bom. Mesmo com você não querendo antes… a gente ia matar a saudade, ir ao nordeste… minha irmã vai, amor. - Tentei argumentar.

- Eu tinha planejado algo pra nós.

- Mas você não disse nada.

- Não disse porque você me falou que estaria aqui amanhã.

- E eu não menti.

- Na boa, vai viajar. Desisto de você. - Ela disse, em um tom calmo, porém, muito cortante.

- Lavínia… - Eu ri fraco, sem acreditar. Sentindo meu corpo ficar todo frio na hora.

- Não dá! Você esconde tudo, você não tem tempo pra nada! Ainda mais agora… não dá! - Ela explodiu e agora seu tom está alterado.

- Você tá terminando comigo? - Franzi a testa.

- Não tá funcionando. - Ela suspirou.

- Ou, amor. Não. - Eu senti meu coração sendo estrangulado. - O clipe vai ser gravado daqui uns dias. Nós vamos voltar para nossa vida normal. - Ela riu sem humor. - Amor… vou aí amanhã e a gente conversa.

- Não quero ver você. - E então, pude ouvir ela chorando.

- Lavínia… - Quando eu ia falar mais, ela desligou. Senti meu corpo todo suando, meu coração errando as batidas e o chão sumindo debaixo de mim. Não, não pode ser. Ela só deve estar em um dia mal… eu só tentei fazer com que ficássemos bem. Porra! Porra! Porra!

Comecei a sentir o desespero me tomando dolorosamente. Eu errei tanto assim? É só trabalho, caralho! E além do mais, eu só quis evitar mais uma discussão falando sobre a viagem. Acreditei no fato de amenizar tudo dizendo que minha irmã iria também. Na verdade, ela surtou. De novo.

Mas isso não vai ficar assim. Nós vamos conversar. Ela só tá estressada e enciumada. Comecei a repetir essa frase repetidamente na tentativa de me acalmar.

(…)

Não consegui ficar calmo. Durante todo o voo eu fui pensando na nossa discussão. Pisei os pés em São Paulo, liguei pra ela. Desligado.

- Tudo certo pra amanhã? - Bruna apareceu animada logo que cheguei, abrindo a porta pra mim.

- Mais ou menos. Lavínia tá brava comigo. - Eu disse, lhe abraçando, beijando sua bochecha em seguida.

- Por que, uai? - Ela franziu a testa se afastando.

- Oi, filho! - Minha mãe apareceu.

- Oi, xum. - Sorri, ela logo veio me abraçar.

- Cê tá bem? Tá com fome?

- Tô. Os dois. - Ri de leve. - Cadê meu pai?

- Foi pro futevôlei com Raphael. - Minha mãe respondeu e já foi me levando para a cozinha. Lá, lhes contei sobre a discussão com Lavínia. Porém, sem muitos detalhes. - Filho, a vida que vocês tem não é fácil. As vezes isso pode desgastar. Depende dos dois fazer com que dê certo.

- Ela deve tá estressada, tadinha. - Bruna falou.

- É, eu sei… não tô com tempo nem pra mim. Sei que ela sente minha falta. Tem esse clipe também… ela fica com ciúmes. - Suspirei.

- E eu entendo. Cê precisa ver a mulher que vai encenar com ele, mãe. - Bruna disse.

- É só trabalho, filho. Vocês vão passar por isso. Ela ama muito você, isso é nítido. - Minha mãe me acalentou. Tentei me apegar ao amor. É, ela me ama. Nós vamos conseguir.

Conversamos por muito tempo e em seguida, meu pai e meu cunhado se juntaram a nós. Nosso voo é amanhã pela manhã, e eu já sei que Lavínia não vai. Antes do voo, vou até a casa dela para conversarmos. Não posso mais cancelar a viagem, mas eu espero ficar bem com ela.

|| Lavínia ||
No dia seguinte

Acordei ainda sentindo muito sono. Que bebê mais dorminhoco. Logo lembrei da ligação do Luan e meu estômago embrulhou. Levantei rapidamente e fui ao banheiro. Vomitei de novo. Nunca tive uma crise tão forte de mal estar. Acordei algumas vezes durante a noite, as meninas perceberam o movimento e me abasteceram com água de coco, minha médica já havia indicado para que eu não ficasse tão desidratada em casos de enjoos. Mas dessa vez, não adiantou. Não tenho mais o que vomitar e meu estômago dói.

Sentei ao chão do banheiro, me apoiando no vaso e tentei, mas eu não tenho nada no estômago. As lagrimas vieram e eu fiquei desesperada. Tentei respirar fundo, devagar… olhei para cima e pedi força aos céus. Funguei, lembrando que hoje é a primeira consulta oficial do bebê e eu fiquei feliz quando soube que Luan estaria em São Paulo. Seria uma surpresa, seria a minha maneira de lhe contar a novidade. Mas aí ele me fala sobre a viagem que escondeu esse tempo todo… Que raiva dele! Meu Deus, que raiva! Comecei a soluçar, sentindo a ânsia passando, mas a dor em meu peito me rasgando. Eu estou mal. Demorei a pegar no sono e chorei por muitos minutos ontem. Eu me sinto trilhões de vezes mais vulnerável, sensível… meu ponto fraco sempre é ele. Saudade dele. O distanciamento dele. O clipe dele. A modelo dele. E junto disso, o medo. Medo de ser uma mãe incompetente. De não estar preparada. De não ter apoio suficiente dele, de ficar sobrecarregada… de não dar conta disso tudo.

Procurei forças em meio aos meus pensamentos, levantei e fui até o chuveiro. Me despi e deixei que a água percorresse meu corpo. Que me limpasse, me aliviasse e levasse junto toda sensação ruim.

Quando saí, deixei meus cabelos molhados. Hoje ainda é quinta. Mas estarei a manhã inteira livre. Vou até a distribuidora a tarde e vou dar uma passadinha rápida na loja para conversar com nossa gerente. Só de imaginar eu me sinto exausta.

Me olhei no espelho e vi meu rosto todo inchado de tanto chorar , senti meu corpo inchado também, apesar de ter vomitado tudo que comi. Estou beirando os dois meses. Sim, já faz um mês que eu tento contar para Luan e não consigo. Um mês levando a gravidez sozinha, e nunca pensei que pudesse me sentir tão solitária.

Respirei fundo e comecei a segui. Afinal, posso estar mal por dentro, mas por fora tenho uma vida pra viver. Compromissos e trabalhos. Tenho meu pequeno feijão.

Vesti uma calça pantalona verde menta e um body lilás mangas longas com decote em V. Passei hidratante e protetor em meu rosto, que não disfarçou a consequência de tanto choro e o abatimento pelos enjoos. Fui para a mesa de café da manhã, não encontrei ninguém. Óbvio, as meninas já foram. Tinham trabalho hoje, apesar de me ouvirem ontem sobre a discussão com Luan e também me ajudarem com meus enjoos.

Peguei um limão e chupei metade, na tentativa de aliviar meus enjoos. Em seguida, tomei um copo de água de coco. Decidi comer uma fruta, foi quando bateram na porta.

Segui até lá, e só então lembrei: é ele. Ele disse que viria.

- Quem é? - Perguntei.

- Sou eu, amor. Abre aqui pra gente conversar. - A voz dele fez tudo se agitar em mim. Eu o amo tanto e o odeio tanto! Suspirei e abri a porta. Precisando agir feito gente grande. -  Você tá bem? Não foi trabalhar? - Ele franziu a testa. 

- Tô bem. Só Tenho médico marcado hoje. - Eu disse.
Passei na distribuidora, cê não tava lá… - Continuou confuso.

- É, tirei a manhã pros meus compromissos. - Falei de forma muito contida. Não sei se tenho forças pra discutir novamente.

- Posso entrar? - Ele mudou o assunto, me olhando agora com a carinha mais fofa do mundo. Esse cachorro não me compra. Lhe dei espaço e ele logo entrou.

- Pode sentar. Já tomou café? - Perguntei. Nós vamos ter um filho. Não posso jogar tudo a merda desse jeito.

- Já tomei sim. - Ele respondeu, sentando no sofá. - Você tá bem? - Ele perguntou, sabendo que não estou. Meu rosto deve entregar tudo.

- Uhum. - Suspirei, sentando também.

- Ontem você me deixou desesperado. - Ele começou, se aproximando e procurando minhas mãos. Segurou as duas, acariciando. - Não faz isso comigo. - Pediu.

- Você é quem faz eu me sentir mal. - Olhei em seus olhos.

- Não é de propósito. Eu sei que não estamos no nosso melhor momento, mas a gente já imaginava que não ia ser fácil… eu tô tentando não errar e tudo que eu mais faço é errar. Me desculpa. - Ele me pareceu triste. Fechei meus olhos, respirando fundo.

- Você vai viajar? - Quis saber. Ele ficou me olhando sem saber o que dizer, ou melhor, sem saber como dizer. Então, eu soube a resposta.

- É trabalho… queria você comigo. A Bru vai, o Raphael também… o diretor do clipe e a esposa dele. Os meninos vão. Caio, Edgar…

- Nossa… todos sabiam e só pra mim ia ser surpresa? - Fui irônica.

- Detesto brigar com você, então pensei que você pudesse mudar de ideia se…

- Se você me escondesse. - O interrompi.

- Não. Não é isso…

- É isso sim. - Ergui as sobrancelhas.

- Não teria a menor possibilidade de você ir? - Apelou.

- Não. - Respondi firme.

- O que você vai fazer no médico? - Ele mudou de assunto.

- Você saberia se não fosse viajar. - Disse e ele franziu a testa.

- Tá tudo bem?

- Tá tudo bem. - Suspirei.

- Eu indo, vou ficar bem com você? - Ele perguntou e eu ri sem humor.

- Não estamos bem, Luan. Eu tive vontade de jogar tudo pro ar, pena que… - E então, desisti de falar.

- Não. Não faz isso. - Implorou, me abraçando. Não abracei de volta. - Te amo, loira. Você é o amor da minha vida. Prometo pra você que depois do clipe, vou ter todo o tempo do mundo pra nós. - E então, ele desfez o abraço, voltando a me olhar.

- Eu tô esgotada. Só quero que você saiba disso. Esgotada. - Ele engoliu seco.

- Eu não posso ficar. Eu queria, mas eu não posso. - A voz dele começou a embargar.

- Você vai, quando vier a gente conversa e decide o que fazer sobre nós. - Eu permaneci firme e ele negou com a cabeça.

- Não, amor. - Vi seus olhos marejando.

- É o melhor, Luan. - Senti a ânsia de vômito se aproximando e eu nem comi nada.

- Por favor, loira. - Implorou.

- Vai tranquilo. Na volta a gente vê. - Respirei fundo, me segurando para não vomitar. - Precisamos desse tempo.

- Eu te amo. Amo pra caralho. - E então, uma lágrima desceu por seu rosto.

- Eu também amo você. - Suspirei. - Amo muito você. Não é falta de amor, a gente sabe disso. - Acariciei seu rosto, limpando sua lágrima. E então, ele me abraçou.
Pensa bem, por favor. Volto correndo pra você.

- Tá. - Falei, o abraçando de volta.

- Eu te amo com todo meu coração. - Ele beijou meu ombro.

- Também amo você. Cuidado nessa viagem. - Avisei e ele me olhou.

- Nem pensa nessa possibilidade. Não existe chance. Só você na minha vida. - Ele disse, olhando em meus olhos. Assenti. E então, ele acariciou meu rosto. Em seguida, beijou minha testa demoradamente. Encostou o nariz no meu e sussurrou: - 

- Amo você. - Disse mais uma vez. - Não desiste do nosso amor. - Pediu.

- Também amo você. Vai com Deus. - Eu disse e então ele se afastou.

- Preciso ir. - Suspirou. - Procurei você na empresa, vim parar aqui… tô atrasadão. Mas por você vale tudo. - Ele sorriu amoroso. Senti o amor em seu gesto. Mas em contrapartida nós temos um bebê que vem sendo negligenciado.

- Tá, vai lá. - Eu disse, levantando. O levei até a porta. Ele me abraçou de novo. Me cheirou bastante, quase não larga… eu gostei de receber carinho, mas são migalhas. Eu sei que mereço mais. E ainda mais agora.

- Vou tá pensando em você. - Ele disse, antes de se virar e ir. Eu entrei, fechei a porta e meus olhos encheram de lágrimas. Porém, não tive tempo de chorar tranquila. Meu estômago embrulhou e eu tive que correr para o banheiro mais próximo. Não deu tempo. Vomitei na cozinha. Sentei no chão, sentindo minhas forças indo embora e eu segui chorando. Me sentindo muito, muito fraca… Levantei e me senti tonta. Procurei meu celular, o encontrando em cima da mesa. Liguei para Clarissa. Eu realmente não me sinto bem. Logo ela atendeu.

- Oi, mana! Como você tá? - Ela perguntou animadamente e eu suspirei.

- Não tô bem. Acho que vou desmaiar. - Foi o que eu consegui dizer antes de desabar no chão.

|| Luan ||

Logo que cheguei ao aeroporto, meu celular tocou. Estranhei ao ver o nome de Clarissa na tela. Franzi a testa e em meio a conversa de toda a galera, eu atendi.

- Oi, cunhada. - Falei.

- Você ainda tá no Em São Paulo?

- Tô, uai. - Senti meu coração acelerar com seu tom de voz. 
Algo está errado. - O que houve?

- Lavínia tá no hospital. Você precisa vir. - Senti meus pulmões parando, fazendo meu ar sumir. Lavínia. Hospital.

- O que aconteceu? - Meu coração se agitou.

- Luan, vem. Isso já foi longe demais. - Ela suspirou e eu não entendi.

- Me manda a localização. - Pedi.

- Certo. - E então, ela desligou.

- Tudo bem? - Bruna me olhou.

- Lavínia tá no hospital. Eu preciso ir. Não vou conseguir viajar. - Falei meio desesperado.

- É grave? - Meu cunhado se preocupou, enquanto todos olham pra mim.

- Não sei. Clarissa me ligou. Ela não ligaria atoa. - Passei a mão por meus cabelos, agoniado.

- Vai, velho. Sua mulher tá precisando de você. - Caio disse.

- Cê quer que eu vá junto? - Edgar se dispôs. Enquanto as meninas permanecem sem entender, foi quando eu ouvi o diretor lhes contando o acontecido.

- Não. Eu vou sozinho. Vou chamar um Uber. - Eu disse, me sentindo muito atordoado. Eles começaram a falar comigo ao mesmo tempo, mas não consigo registrar nada. Só vozes. Minha cabeça girando. Meus olhos sem foco. Que ela esteja bem, Deus! Eu percebi seu rosto abatido… pensei que fosse por nossa discussão. A culpa me encheu e eu só soube sair rapidamente, sem me importar com mais nada além dela.







OIIIIIII! Como prometi no grupo, tô aqui! Capítulo QUENTE PRA VOCÊS! E não foi quente de um jeito bom né?! O que vocês acharam? O que vai rolar no próximo? Será que vai ficar tudo bem? 😮‍💨 
AMEEEEI A CHUVA DE COMENTÁRIOS!
Sejam sempre assim, pq eu mereço HAHAHAHAH 
Comentários respondidos!!!
Bjs, Jéssica ❤️