domingo, 12 de dezembro de 2021

“ Juntos em um dia chuvoso “ 89

Logo que chegamos ao apartamento começou a chover. O dia em São Paulo estava muito fechado, a chuva era só questão de tempo.

- Acho que vai chover muito. - Comentei, quando ele abriu a porta.

- Acho que sim. - Deu espaço pra eu passar, entrou em seguida. Vi tudo arrumadinho e cheiroso. Ele pagou alguém pra limpar tudo. Ainda nem tá morando aqui.

- Quando cê vem morar aqui? - Perguntei, o testando. Caminhando para a cozinha, ele me respondeu:

- Dentro de umas semanas. Só preciso acertar tudo do que vou trazer, do que vou deixar. Roupas, objetos… essas coisas. - Abriu a geladeira e eu sentei no banquinho próximo ao balcão. - Tudo abastecido por aqui. - Ele me olhou sorrindo, mostrando a geladeira cheia. - Aqui também. - caminhou até o armário e me olhou igual um menino. Todo sorridente. Acabei rindo de leve.

- Bom né?! Não vamos morrer de fome.

- Claro que não. Você e nosso bebê merecem o melhor. - Piscou um olho e eu revirei os olhos. Mas confesso que gostei do seu cuidado e atenção. Parou de frente pra mim, do outro lado do balcão e sorriu. Ele tá claramente empolgado. - Você não fica feia de jeito nenhum né?! - Ele fez careta, ainda sorrindo. Eu corei.

- Luan, eu tô normal. Moletom, cabelo rabo de cavalo e rosto natural. Nada que você não tenha visto antes.

- É que eu não me canso de ver, nem de admirar. - Inclinou a cabeça pro lado e me olhou penetrante. Corei mais e senti meu corpo respondendo facilmente. Corpo traidor!

- Certo, o que vamos fazer agora? - Eu mudei de assunto, levantando. Não podemos ir por esse caminho.

- O que você tem em mente?

- Não sei, uai. Por mim assisto filme, durmo… essas coisas de quem não tá fazendo nada. - Dei de ombros.

- Larga de ser reclamona. Daqui a pouco cê completa os quatro meses, daí vai ficar tudo bem, se Deus quiser. - Caminhei para a sala, sentei no sofá.

- Amém. - Suspirei. Quero meu pequeno feijão em segurança. Ele sentou-se ao meu lado.

- Podemos ver um filme ou série. - Ele deu de ombros.

- Tá, mas tem que ser algo que você nunca assistiu.

- E você também. - E então, ele pegou o controle e ligou a TV. Demoramos longos minutos até que escolhemos uma série de casos policiais. - Comprei oreo pra você. - Ele disse, me olhando. Ele sabe que é o biscoito que eu mais gosto.

- Sério?! De chocolate?

- Claro, pô. Cê acha que eu ia errar o sabor? - Sorriu e eu saltei do sofá, indo saltitante até o armário. Ouvi a gargalhada dele.

- Ah, para de rir! - Reclamei, mas também sorrindo. Abri porta por porta, finalmente achando o oreo. - Luan, você não me ajuda na dieta, poxa. - Reclamei novamente, já voltando.

- Dieta pra que, meu amor? Você tá linda. - Me olhou com afeto e eu desacreditei das suas palavras. Ultimamente minha autoestima anda lá embaixo. E eu sei que com o passar dos meses, vou me sentir pior. Sentei ao seu lado. - Posso dar play?

- Pode. - Eu disse, então ele deu play e com outro controle uma espécie de cortina automática desceu sob todas as janelas, fechando tudo ao redor, deixando a sala escura. O frio, barulho de chuva e ele. Para minha surpresa, senti como se fosse a combinação perfeita.

Se passou-se pouco mais de 10 minutos da série, então ele começou a se aproximar mais.

- Luan, eu tô vendo você. - Falei, olhando a TV e ele riu.

- Larga de chatisse. Tá frio. - Ele me olhou, enquanto eu acabo de devorar meus biscoitos. Ele descaramento se aproximou mais, passando a mão em volta da minha cintura, enterrando o rosto no meu pescoço. Cheirou e eu me arrepiei.

- Ou, cê não vai assistir a série não?! - Cutuquei suas costelas e ele se encolheu todo, enquanto teimosamente beija meu pescoço. Sua mão saiu da minha cintura e segurou meu maxilar. Ele continua me beijando. Eu me remexi, tentando mostrar incômodo. Na verdade, eu tô muito afetada por ele.

- Você não sente falta do meu beijo, não?! - Sussurrou. Olhei pro teto, pedindo força aos céus.

- Luan, não faz meia hora que estamos aqui e você já tá me atacando. Bora assistir a série, poxa. - Segurei seu braço, mas ele com a mão em meu maxilar virou meu rosto em sua direção e com os olhos bem perto dos meus, disse:

- Fala pra mim que cê não sente falta. - Disse olhando minha boca. Meu coração pulando dentro do peito. Senti o calor me tomando e a sensação de ar faltando, o nervosismo no finalzinho da barriga. Desviei o olhar. 

- Sinto, mas você não merece minha saudade. - Assumi e ele riu de leve, se mantendo muito próximo.

- Por que eu não mereço? - Ele disse, ainda olhando minha boca. Evitei contato visual, olhando para um ponto aleatório atrás dele.

- Nós estamos separados. - Relembrei.

- Só você quis isso. E eu tô morrendo de saudade. - E então, ele voltou ao meu pescoço. Eu senti os últimos resquícios de resistência indo embora, foi quando eu levantei. E ele me olhou assustado.

-Aquieta! Sério! - Pedi meio desesperada e ele jogou a cabeça contra o sofá. Fechou os olhos e grunhiu.

- Beleza. Desculpa. Não fica irritada. Vem, vamos assistir. - Me chamou com a mão. 

- Vou ficar na outra ponta do sofá. - Falei, ainda emburrada e ele riu.

- Cê tá brincando né?! - Desacreditou.

- Não! - Caminhei até o extremo do sofá e sentei.

- Não precisa disso.

- Precisa sim. Você não fica quieto, cara. - O olhei irritada. -

- Beleza. Não toco mais em você. - Me olhou ofendido e eu suspirei. Voltei minha atenção para a TV, e o ignorei. Com Luan só funciona assim. No mínimo de abertura, ele vem com tudo. Vi ele cruzar os braços e ficar sério. Ficou emburrado. Paciência, muita paciência.

Minutos se passaram e eu percebi ele estranhamente quieto, quando olhei pro lado, ele tinha pegado no sono, agarrando a almofada. Sorri sozinha. Ele madrugou pra ir me buscar, isso na realidade dele. Olhei as horas e vi que já são cerca de 11:00 da manhã. Como passou rápido! A série é realmente muito boa. Decidi levantar, segui para a cozinha e vou preparar um almoço pra nós dois. Tudo abastecido por aqui, então fica mais fácil.

Cortei verduras, decidi fazer um peixe de forno com legumes. Fiquei distraída em minha tarefa, sem me dar conta de quanto o tempo ia passando. Preparei o arroz e um purê de batata doce. Quando virei, vi ele sentado no banquinho, apoiado no balcão, me observando.

- Você dormiu. - Eu sorri.

- É, acordei cedo. - Sorriu de lado. - O cheiro da comida me acordou.

- Ta cheirando né?! - Falei empolgada e ele concordou. - Tô pensando em fazer uma sobremesa rápida.

- Esse almoço tem algo especial? - Ele estranhou.

- Não, uai. Eu só quis cozinhar. - Dei de ombros. 

- Nosso primeiro almoço no nosso cantinho. - Ele sorriu encantado.

- Verdade. - Falei como se não tivesse nem pensado nisso.

- Tem vinho aqui. Comprei. Você não pode beber, mas eu posso. - Ele riu e eu bufei, lamentando não poder. Levantou-se e rapidamente pegou o vinho e taça. Voltou a sentar no banquinho, enquanto chove muito lá fora. Passou a mão por seus cabelos longos, então colocou vinho na taça, bebendo em seguida. Os olhos em mim. Aquela intensidade toda. Senti um frio delicioso na barriga. Virei de costas. - Tem sorvete aí, amor. - Ele disse. - Já serve de sobremesa, mas se você quiser muito fazer, pode fazer. Tem tudo que você imaginar aí. Pedi que minha mãe fosse junto com a ajudante dela e comprasse tudo que durasse pelo menos um mês. Em pouco tempo venho pra cá, já resolvi esse ponto. - Meu coração acelerou. Ele vem mesmo!

- Então vou fazer brownie. É rapidinho e a gente come com o sorvete. - O olhei rapidamente e vi o mesmo olhar de antes. Como ele consegue me desconcertar tanto? Eu o odeio por isso. 

- Do jeito que você quiser. - E então, bebeu o vinho novamente. Resolvi esquecer que ele está me observando e segui para a sobremesa. Foi rapidinho e em poucos minutos estava pronta. Porém, nesse meio tempo ele tomou umas duas taças e já estava no início da terceira.

- Você vai ficar bêbado. - Alertei.

- Tô bem, loira. - Piscou um olho e eu suspirei silenciosamente. Ele me ajudou a ajeitar a mesa, fizemos isso em um silêncio confortável. Sentamos e começamos a nos servir.

- Queria discutir algo com você.

- Pode falar. - Disse se mostrando muito disponível.

- Eu quero fazer chá revelação. - Ele me olhou com um sorrisinho bobo. Eu amo quando ele sorri assim pra mim.

- Cê acha mesmo que a Bruna não ia fazer isso acontecer? - Eu ri. Sua irmã realmente está bem empolgada e já falou bastante sobre um possível chá.

- Você tem razão. Mas o que você acha? - E então, ele parou de se servir, voltando toda atenção pra mim.

- O que você decidir, meu amor. - Disse delicado e meu coração ficou igualzinho uma geleia. Coração trouxa.

- Certo. - Sorri de lado.

- O que cê acha que é?

- Eu acho que é menino. - Ri de leve.

- É?! Eu tô torcendo pra ser menino. Num aguento se vier uma cópia sua. - Franziu as sobrancelhas.

- Por que?

- Não dá, pô. Meu ciúmes não aguenta não. - Ele me olhou como quem está sofrendo e eu ri.

- Larga de bobagem.

- Tô falando muito sério. - Me olhou tentando passar seriedade. Neguei com a cabeça.

- A gente não falou sobre nomes também. - Mudei de assunto. - Você tem alguma preferência?

- Eu não tenho nenhum nome em mente. Você tem? - Eu assenti, ainda de boca cheia e ele sorriu de lado. Os olhinhos apaixonados, esperando eu conseguir falar.

- Quero que pelo menos o primeiro nome seja Maria e se menino, seja Antônio. 

- Por que?

- Nome da minha avó materna e do meu avô paterno. Quis homenagear. - Dei de ombros. - Você concorda? - Ele riu de leve. 

- Parece que a gente tá falando sobre um contrato. Mas sim, eu concordo. Significa pra você. Mas eu tenho uma condição.

- Pode falar. - Falei, voltando a comer. A comida tá deliciosa!

- Pode ser nome composto? Gostaria de homenagear meus avós paternos. Você sabe, eles significaram muito pra mim.

- Claro! - Falei de imediato, ainda com a boca cheia. E ele sorriu.

- Então fica decidido. Se for menina, vai ser Maria Manuela. Se for menino, vai ser Antônio José.

- Decidido. - Sorri, me sentindo feliz pelo momento. Decidimos os nomes e foi tão simples e tão significativo. E o melhor: nós dois estivemos juntos nisso, concordando e resolvendo de uma forma muito leve.

- Sua comida tá uma delícia. - Elogiou e eu corei, me sentindo levemente tímida.

- Obrigada. Eu também acho. - Fui sincera e ele gargalhou diante da minha sinceridade. Então, ficamos em silêncio. Porém, logo voltamos a falar sobre o anúncio da gravidez que deve acontecer em pouco tempo, logo que eu estiver fora de risco.

- E sobre a nossa separação. - Puxei o assunto. - Quando você vai anunciar?

- Não vou anunciar, Lavínia. - Me olhou sério. O olhei séria também, negando com a cabeça. - Nós vamos formar uma família, pô. Não vou anunciar término coisa nenhuma.

- Você quer que eu faça isso? - Ergui as sobrancelhas, desafiando-o.

- Não faça isso. Não agora. - Pediu.

- E quando, Luan? Quando? 

- Eu te quero de volta. Você, nosso neném. Eu quero morar aqui, ou em qualquer outro lugar com vocês. Dormir sentindo teu cheiro que eu sou apaixonado. - Ele disse com muita naturalidade.

- Mas eu já disse que não quero mais.

- Você não me quer mais? - Me olhou desconfiado.

- Não quero tudo isso que acontece quando estamos juntos.

- Não vai mais ter esse tipo de coisa, poxa. Vou mudar de número, zero contato com mulheres do passado. Trabalhos que te incomodam, não serão cogitados. Eu quero assumir a postura de um homem comprometido.

- Não quero que faça isso por mim, se no fundo você não quer.

- Eu não quero? Tudo que eu mais quero é você. Nunca senti tanta saudade de alguém como eu tenho de você. Chega a ser uma dor física. Não tem sido dias fáceis e tudo que eu mais quero é a paz que você me trás.

- Vou pegar a sobremesa. - Fugi do assunto intenso, levantando. Vi ele terminando de comer, enquanto eu preparo nosso brownie. As palavras ecoando na minha cabeça e logo me senti dentro de uma confusão de sentimentos. Decidi expulsa-los por agora e voltei para a mesa com as sobremesas. - Você lava a louça.

- E você seca.

- Não! Eu já fiz tudo, uai. - Protestei.

- Se eu lavar e secar, eu tenho direito a um pedido. - Ele ergueu as sobrancelhas.

- Não. Luan, seja justo.

- Você que não tá sendo justa.

- Eu? - Fiquei boquiaberta. - Você é impossível mesmo!

- Posso fazer o pedido?

- Não! - Disparei. - Isso não é negociável.

- Você é tão malvada! - Reclamou, começando a comer e para meu alívio, ficou em silêncio. Terminamos em silêncio e começamos a desfazer a mesa. Eu o ajudei a levar a louça para lavar. Entre idas e vindas, ele me barrou. Parando de frente pra mim. Desviei e ele veio junto. Tentei para o outro lado e ele impediu.

- Luan, da licença. - O olhei séria e vi um sorriso sapeca em seus lábios. Ele adora me tirar do sério!

- Uai, pode passar. - Desviei de novo e ele me impediu. Lhe acertei um tapa na ombro, ficando irritada e ele riu. Me agarrou pela cintura, e eu só estava com o jogo de guardanapos na mão. - Larga de ser braba! - Ele disse, ainda rindo.

- Você faz de propósito. - E então, ele desfez o abraço.

- Eu amo ver você brabinha. Mas quando fica brabona… - Fez careta e eu tive que rir.

- Vai lavar sua louça. - Eu disse e então me virei, já saindo da cozinha.

- Ou, onde cê vai?

- Vou organizar minhas roupas no quarto. - Ele fez uma carinha de coitadinho, espontaneamente.

- Não vai dormir comigo? Só dormir mesmo. - Juntou as sobrancelhas e eu respirei fundo pra resistir.

- Não. Você dorme no seu e eu durmo no meu.

- Você não tem medo de trovão, relâmpago? - Neguei com a cabeça, mesmo ele já sabendo a resposta sobre isso. - Toda mulher tem, só a minha que não. - Virou-se para a louça. - Eu tô lascado de verdade. Segui para o quarto e desfiz minha mala, colocando tudo em seu devido lugar e isso me roubou muitos minutos. Fiquei imaginando como será quando nosso bebê estiver aqui. Me peguei imaginando o rostinho. Será que vai parecer com ele? Se tiver o sorriso, vai ser meu fim. Uma batida na porta me assustou.

- Loira? - É ele.

- Oi. - Respondi.

- Cê não terminou ainda? - Fui até a porta e abri.

- Já tô acabando. E você?

- Já lavei, sequei e guardei. - Ele caminhou até a varanda, onde o tempo está realmente fechado. A chuva somente diminui a intensidade, chega a parar uns minutos, mas logo volta.

- Muito bem. - Zoei e ele me olhou feio.

- Cê não tá falando com seu cachorro. - Reclamou e eu gargalhei. Ele sentou-se na cama. - Isso aqui é tão espaçoso, eu poderia dormir aqui sem problemas.

- Não, sem condições.

- Você não resistiria né?! - O olhei com desdém, enquanto ele me olha com intensidade.

- Você se acha muito, esse é seu problema.

- Você gosta assim que eu sei. - Dei uma falsa risada e ouvi ele rir. - O que vamos fazer agora?

- Não sei, uai. Não tem muita coisa pra fazer em um dia chuvoso, dentro de um apartamento.

- Eu tenho várias ideias… - Falou malicioso e eu o olhei.

- Você não se cansa?

- De me humilhar pra você? Pelo jeito não. Faltou vergonha na cara. - Ele fez careta e eu sorri.
- Idiota.

- Não, não fala assim. - Disse manhoso. Meu coração se aqueceu, relembrando o quando eu amo ele.

- Bora, levanta. Sai do meu quarto. - Ele levantou-se, me olhando sem entender.

- O que cê vai fazer?

- Dormir. - Dei de ombros. Eu peguei o terrível costume de dormir após o almoço. Na verdade, eu durmo a maior parte do tempo.

- E eu?

- Você arruma algo pra fazer, uai. - Coloquei minhas mãos na cintura.

- Me deixa ficar aqui. Só pra ficar perto de você. Não vou te tocar, não depois do fora que cê me deu mais cedo no sofá. - Me olhou com uma certa mágoa. Ele realmente ficou chateado com aquele momento? Ergui as sobrancelhas.

- Jura que vai ficar quieto? - Cruzei os braços.

- Juro, general. - Bateu continência e eu não consegui ficar séria.

- Beleza. Mas na primeira gracinha, você vaza. - Avisei e ele assentiu.

- Vou pegar meu livro. Tô lendo um muito massa. - Disse e já saiu animado para pegar o livro. Suspirei, avaliando novamente o quanto ele está se esforçando. Voltou rapidamente, entrando sem bater, enquanto eu já me encolho debaixo do edredom. Mesmo com a minha roupa quentinha, gostaria de ficar mais agasalhada. - Você tá mesmo com frio. 

- Tá tudo bem? - Me olhou rapidamente preocupado.

- Tá sim, relaxa. - Sorri. - Vem.

- Oh, cê não me chama assim não… - Ele sorriu de lado, falando malicioso e eu ri. Que bobo mais lindo! Não desliguei as luzes, afinal, ele vai ler. Porém, me aconcheguei no travesseiro. Sentindo o cheiro dele mesmo de longe, eu não demorei a dormir.

(…)
horas depois…

Quando eu acordei, já não vi ele na cama. Me arrastei até onde ele estava deitado e cheirei seu travesseiro. A chuva parou, mas ainda está muito fechado o tempo e posso ouvir trovões. Inalei seu cheiro, sentindo uma paz surreal. Como é bom, como é cheiroso! Sorrindo, eu decidi levantar.

Quando cheguei na sala, senti um cheiro bom. Comida?

- Acordou, dorminhoca? - Ele disse, animado.

- Você tá fazendo o que? - Fui até a cozinha.

- Lanchinho pra nós. Já são 17:00 horas. - E eu arregalei meus olhos. Dormi isso tudo? Sem condições!

- Poxa, não sabia que tinha dormido tanto.

- Acho que nosso bebê tá fazendo isso com você. - Ele riu, enquanto eu me apoiei no balcão. Observando ele que acabou de tirar uma omelete do fogão.

- Acho que ele vai puxar a você. - Comecei, amarrando meus cabelos. Ele tá com uma calça de moletom cinza e com uma camisa fazendo o conjunto, e parece que tomou banho.

- Você quis dizer o que com isso? - Me olhou com os olhinhos brilhantes. O jeito que ele me olha é tão singular! Parece que tá olhando pro que tem de mais valioso no mundo.

- Você é dorminhoco! - Falei cheia de razão e ele gargalhou.

- Vem, bora comer. - Disse, caminhando até a mesa. Sentamos frente a frente. Ele continua me olhando daquele jeito. Senti meu rosto esquentando.

- O que foi?! - Perguntei.

- Nada. - Sorriu de lado. - Trouxe uns vídeos que quero te mostrar. - Ergui as sobrancelhas achando que seja algo sobre o clipe.

- Não quero saber. - Fui ácida e ele me olhou sem entender. Comecei a me servir. Ficou uns segundos me olhando e pareceu entender tudo.

- Não é sobre o clipe, loira. São vídeos de quando eu era bebê. Nunca te mostrei, agora quero que veja. Que a gente possa imaginar um pouco mais nosso menino. - De repente, me senti ridícula.

- Ah. Tá bom. - Falei, ficando muito sem graça.

- Larga de paranóia. - Suspirou. - Nem tô lembrando disso e você não consegue esquecer. - Apenas respirei fundo. Ele tem razão. Ficou em silêncio pelo restante do tempo que ficamos comendo. Ele tá chateado comigo, claramente. Droga!

- Pode deixar que eu lavo. - Disse, quando ele levantou.

- Não, eu lavo. Relaxa. - Falou sem me olhar e foi em direção da pia. Suspirei inaudível, me sentindo insatisfeita comigo mesmo. Senti meus olhos querendo lagrimejar e mesmo depois de terminar, continuei sentada à mesa. A chuva voltou, começando com seu barulho terrivelmente alto. - Cê terminou? - Ele se aproximou e desta vez me olhou, porém sem expressão. Assenti e ele pegou tudo que sujei. Voltou e rapidamente lavou.

- Podemos assistir? - Sugeri. Querendo amenizar minhas ações idiotas.

- O que você quer ver? - Ele disse, já caminhando em minha direção.

- Não sei. - Dei de ombros.

- Um filme? - Sugeriu, apoiando os braços na mesa. Como pode ser terrivelmente lindo? Me senti afetada.

- Pode ser. Ou você me mostra seus vídeos de quando era bebê. - Sorri. - A gente pode deitar no sofá. - Sugeri e ele me olhou estranho. Eu quero me redimir.

- Nós dois? No mesmo sofá? - Falou incrédulo. 

- Você não quer ficar perto de mim? - Ergui meu queixo e ele riu.

- Você me quer perto de você? - Ele ergueu as sobrancelhas.

- Luan, é só pra deitar. Você deitou comigo na cama. - Revirei os olhos, tentando manter um pouco de indiferença.

- Beleza. - Ele deu de ombros. Caminhou até a sala, eu o segui. Vi ele conectar o celular à TV, de pé. Deitei no sofá e quando ele terminou me olhou. - Você ocupou o sofá inteiro, pô.

- Tem espaço pra você aqui, uai.

- Onde, Lavínia? - Ele negou com a cabeça. - Eu sento na poltrona, pode ficar a vontade.

- Não! Vem pra cá. - Quase implorei e eu detestei meu tom. Eu só quero acarinhar ele um pouco depois de tantas atitudes ridículas nessas poucas horas juntos. - Você deita entre as minhas pernas. - Vi um início de sorriso, mas ele segurou-se. Assentiu e eu afastei minhas pernas. -

- Não vai esmagar nosso bebê? - Me olhou preocupado.

- Claro que não, Luan! - Revirei os olhos, sorrindo. Ele então se aconchegou. Deitando-se de bruços entre minhas pernas, ficando com a cabeça na altura do meu peito. Meu coração acelerou tanto! Eu esqueci de respirar. O calor do seu corpo próximo ao meu nunca foi tão bom.

- Vou apertar o play. São vários vídeos, não sei se você vai ter paciência.

- Claro que vou. - Falei e comecei a acariciar seus cabelos. Ele suspirou longamente. Como eu amo! Meu coração doeu. Eu nunca amei tanto. E meu coração doeu de novo. Minhas pernas abraçando as dele.

- Não vou falar nada, nem fazer nada. Por mais que eu queira. - Ele disse e eu sorri.

- Acho bom. - Tentei parecer durona. E então, o vídeo começou a rolar. É ele ainda bebê, dentro do berço e chorando muito. Enquanto sua mãe grava e conversa com ele. Eu sorri boba, observando que a covinha dele já dava sinais por ali. O segundo vídeo é ele dando o primeiro passo e sua família celebrando. No vídeo aparece sua avó e ele fez questão de narrar tudo que achava importante.

- Nunca mostrei esses vídeos pra mulher nenhuma. Você é a primeira a ver isso, e enquanto vê isso, tá gerando nosso bebê. - E então ele ergueu a cabeça e me olhou. - Você é o grande amor da minha vida, loira. Nada, ninguém… só você. - Ele me olhou nos olhos e eu coloquei a mão em seus olhos. Ele riu. Não aguento esse contato! - Ou! - Reclamou e eu tirei a mão.

- Me abraça. - Pedi e ele sorrindo o fez. Se mexendo, seu rosto alcançou meu pescoço. A grandiosidade em meio a simplicidade desse momento, tocou o fundo do meu coração.

- Te amo. Muito. Muito. Nosso bebê vai ser lindo. Nosso Antônio José. - Ele disse contra meu pescoço.

- Ou não, hein?! - Ri de leve. - Pode ser uma menininha. Maria Helena. 

- Ah, não! - E ele me olhou de novo. - Não dou conta. - Seu rosto tá bem próximo e seus olhos caíram para minha boca e eu mordi meu lábio inconscientemente. Os olhos dele mudaram. Vi a chama neles. Mordeu os lábios também. - Tô precisando de muito autocontrole agora. - Ele disse baixinho, engolindo seco.

- É, eu sei. - Falei, olhando sua boca também. Eu estou completamente afetada. Acariciei suas costas e ele olhou em meus olhos.

- Amor… - Disse como quem pede permissão e eu nem precisei dizer nada. Ele apenas sabe. Ele apenas conhece. Seus lábios tocaram os meus e fogos explodiram dentro de mim. Dei espaço para a sua língua. E só consigo ouvir o barulho da chuva, a risada dele em mais um vídeo que tá rolando e as batidas aceleradas do meu coração. Sua mão procurou meus cabelos e ele aprofundou o beijo, deixando mais intenso porém ainda lento. Isso me mata! É um beijo tão perfeito que devia ser proibido no mundo! Sua proximidade toda, minha saudade é minha carência fizeram meu corpo ascender. Sua língua maravilhosa agindo em minha boca, fazendo refletir tudo entre minhas pernas. Eu apenas não consigo parar, nem ao menos pedir pra ele se afastar. Eu quero beijar. Eu quero sentir.





OLAAAAAA! com o final desse capítulo espero que vocês tenha esquecido todo ódio que acumularam no coração enquanto eu sumi. Desculpa, gente!!! Esse capítulo simplesmente não fluía nunca! Fora a correria da vida… Foram mais de 500 visualizações no últimos capítulo!!! Sei que não tenho isso tudo de leitoras, então, isso só mostra o quanto vocês estavam ansiosas querendo mais. Fico feliz!!! Espero voltar aqui antes do finalzinho do ano. Então não vou desejar feliz natal, nem feliz ano novo. Quero voltar logo! Agora me digam TUDO que acharam sobre o capítulo. Foram vários acontecimentos entre os dois em poucas horas juntos, lembrando que serão mais 2 dias!! E aí, o que acham que vai acontecer??? 

Tentei responder os comentários, mas o blogger da bugando! Não consegui 🥺 Mas obrigada por cada um!!! Me incentiva demais, vocês ao incríveis ❤️❤️
Bjs, Jéssica ❤️